O Trabalho que virou post!

Não sei o quanto é conveniente postar aqui este texto, pois ele foi elaborado para uma trabalho acadêmico, em que deveria escolher um filme, ou música, ou video-clipe, ou qualquer coisa que pudesse ser “lido” a partir da pergunta Por que as comunicações e as artes estão convergindo?, título do livro de Lúcia Santaella.

Escolhi este filme por dois motivos: (1) sua popularidade  e (2) por ter ideias “para com ele”, pressionando a minha cabeça. Aí está:

As convergências de O Estranho Mundo de Jack

A discussão levantada por Santella em Por que as comunicações e as artes estão convergindo?, se refere ao embate entre a comunicação de massa e arte. A primeira vista como uma produção cultural de fácil acesso e em grande escala, enquanto a segunda, vista de forma mais tradicional, tende a ser mais artesanal e menos acessível.

Diferentemente do pensamento que formou as “belas artes” do século XVIII, atualmente podemos afirmar que a tendência é fazer com que estas manifestações, artísticas ou de massa, estejam cada vez mais próximas. Como exemplo desta afirmação, a partir do livro de Santaella, Por que as comunicações e as artes estão convergindo?, escolhemos o filme O Estranho Mundo de Jack, dirigido por Henry Sellick e produzido por Tim Burton.

O termo “sétima arte”, surgiu das reivindicações feitas por cineastas defendendo o “caráter artístico” do cinema, porém, como defende Santaella, é “(…) uma arte industrial de massas e delas depende para o retorno do alto investimento que sua produção implica” (2008, p.35) e também está entre os meios de massa onde se inclui a televisão, a fotografia, a publicidade, os jornais e revistas, entre outros, que têm como uma de suas características o “(…) uso de máquinas, tais como câmeras, projetores, impressoras, satélites, entre outras, capazes de gravar, editar, replicar e disseminar imagens e informação”. (2008, p. 6). No caso deste filme, além do uso de máquinas para a sua produção e reprodução, diferentes linguagens, como a animação em stop motion e as músicas, que serve de complemento à narrativa e as falas das personagens.

O Estranho Mundo de Jack é Halloween Town, cidade que, de acordo com o filme, teria dado origem à festa de halloween. É nesta região que Jack Skellington organiza as celebrações de Halloween e por isso, é considerado o “rei do horror”, segundo a tradução para a versão em português.

Certo dia, Jack se sente frustrado com a repetição das festas que organizava e sai em busca de algo que o motivasse. No trajeto por ele percorrido, descobre uma passagem que o leva a outro mundo: Christmas Town, ou a Cidade do Natal.

A partir da descoberta deste outro universo, Jack se sente motivado a levar elementos característicos do natal para Halloween Town, tanto ele quanto os habitantes de sua cidade, não compreendem os valores da festa natalina e acabam interferindo em ambas as festas, interferindo na festividade natalina com também no halloween.

A mistura dos dois universos, o do halloween e o natalino, serve de exemplo a um dos elementos de convergência presentes no filme, pois temos símbolos que representam as duas festividades comemoradas de formas diferentes, incorporadas por Jack Skellington, no centro da figura; do lado esquerdo, o Papai Noel, representante do Natal e do lado direito, Jack , O Lanterna, referência à abóbora do halloween.

Se levarmos em conta a fantasia criada na narrativa do filme a respeito da origem de duas manifestações populares, o Natal e o Halloween, vemos que, como afirma Santaella, “o cinema (…) tirou partido da temporalidade que lhe é inerente para desenvolver a habilidade de contar histórias, rivalizando com a prosa literária”. (2008, p.11), isto é, absorveu uma característica até então da literatura para produzir ficção, ainda que esta esteja baseada em aspectos que parecem nascer da história oral ou da prova literatura.   e acabou tendo uma repercussão excedente às telas de cinema.

O filme data de 1993 e teve uma repercussão excedente às telas de cinema ou aos relançamentos posteriores em DVD, Blu Ray e 3D. Desde a sua primeira versão em VHS até os formatos atuais, diversos produtos ligados à moda, principalmente camisetas ou nos acessórios, como carteira, chaveiro, relógios, ou ainda objetos para decoração de festa infantil, como guardanapo, copo descartável, enfeite de mesa ou bonecos.

O fato de as “belas artes” e a cultura de massa, especialmente ligada ao consumo, se cruzarem começa, como afirma Santaella, a partir da Revolução Industrial, quando a divisão da cultura em erudita, para a classe dominante e popular, para os subalternos, responsáveis pela preservação da memória, começa a sofrer alterações. (2008, p: 10).

Como destacamos, o filme deu origem a uma série de produtos que alimentam um enorme mercado daqueles que, não só o assistiram, como também o veneram e consomem os desdobramentos ocorridos especialmente com os personagens Jack Skellington, Sally e Oogie Boogie, como também, possivelmente, foram adquiridos por pessoas que não chegaram a assistir ao filme, mas foram atraídos pelo apelo visual do personagem ou do modismo em torno dele.

Atualmente, esses desdobramentos são comuns em diversos filmes, mas também ocorrem na literatura, na música, na pintura ou nos museus e são eles que muitas vezes promovem e fazem com que uma grande parte da população tenha acesso às produções da arte, como afirma Santella (2008, p. 15).

Ciro Marcondes afirma em seu livro Até que ponto de fato nós nos comunicamos?, que a “comunicação tampouco é instrumento, mas, acima de tudo, uma relação entre mim e o outro ou os demais” (2004, p.16)Deste modo, não há uma linha clara que segmente o campo das artes e o da comunicação, pois, parecem criar-se e promoverem-se juntas, inclusive por ser a arte, por si só uma forma de comunicação.

O filme:

O Estranho Mundo de Jack (The Nighmare Before Christmas)

Direção: Henry Selick

Produção: Tim Burton

Ano: 1993

Gênero: Animação/Musical

As referências: 

MARCONDES FILHO, Ciro. Até que ponto, de fato, nós nos comunicamos? São Paulo: Paulus, 2004.

SANTAELLA, Lucia. Por que as comunicações e as artes estão convergindo?  3° ed. São Paulo: Paulus, 2008.

Felipe M.

Esta entrada foi publicada em Filmes, fotos, clipes, imagens com as etiquetas , , , , . ligação permanente.

Deixe um comentário